quarta-feira, 29 de julho de 2015

A diferença é o que temos em comum

Café, poesia e duas doses de ironia


A diferença é o que temos em comum

Por algum tempo causou-me certa estranheza perceber que encontrar um ponto em comum não era como um jogo de cartas espalhadas pela mesa, muitas vezes a lógica era fora de lógica, feito o braço do carrasco que servia de ombro amigo, em muitas vezes a lógica era totalmente fora de sentido.

Tem gente que nasce para ser rocha, consistente, sólida, segura mas deveras imóvel, e tem gente que nasce para ser rio, de certa imobilidade aos olhos desatentos mas de constante mutação, de comum o fato de nascer gente, de igualdade o fato de que cada um é diferente.

Achei que eu fosse um desses adeptos da rotina, da segurança de uma vida regrada até perceber que era o caos que me dava vida, o improviso, a construção, a criação, o desespero e a alegria formando cada parte, entendi então que era isso o tal “viver em arte”.

Seja feito rocha ou seja feito rio, perceber que somos iguais em ser diferente é o primeiro passo para sermos de fato gente.

E agora João? E agora José?... sigo caminhando e cantando....  sigo voando, sigo a pé !


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

domingo, 26 de julho de 2015

E no jardim os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis

Café, poesia e duas doses de ironia


E no jardim os urubus passeiam a tarde inteira entre os girassóis

São tempos estranhos, não percebi ainda em qual momento deixamos de ser humildes para semear a arrogância, se é que já fomos humildes, pobres dos seres sensíveis que são catalisadores dessa energia maluca que paira no ar, pobres seres que não sabem onde tudo isso pode parar.

E são nos atos corriqueiros do cotidiano que isso salta na nossa frente, por exemplo, os condutores e seus veículos alucinados que avançam no transeunte sobre a faixa de segurança, que não sinalizam com a seta qual o caminho vão tomar, mostrando assim o quanto se importam com o outro.

Ou então o cara que trata mal o garçom, que humilha o balconista, e até para que não fique caracterizado que isso tem relação com a classe social também tem o vendedor que trata mal o cliente, que acha que é o dono da loja e que está ali fazendo um favor para a gente, aliás, isso na prestação de serviços por aqui é um ato deveras recorrente.

São tempos estranhos, mas esse é o tempo da gente... sejam girassol que eu tentarei ser um gira-lua contente...  e os urubus que passem, passam eles e ficamos nós... as sementes.


Marcelo Diniz
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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Na Noite Escura Da Alma

Café, poesia e duas doses de ironia


Na Noite Escura Da Alma

E não é a carência, não é arrogância, vivemos no grande erro de não saber olhar para os lados, é uma cegueira crônica, justificamos isso chamando de prioridades, mas até que ponto estamos alimentando uma mentira? até que ponto queremos que ela vire verdade?

Veja bem meu bem, se somos um espasmo de momento, uma fagulha de tempo na plenitude do infinito, não seria mais prudente semear a sinceridade? Aceitar o que é, aceitar o que quer, sem raspas, sem tabus, sem restos indigestos.

Acima de tudo perceber que a vibração é um ato cíclico, a energia que você emana é a que volta... cresci numa geração que acostumou a abandonar os sonhos, e hoje estamos abandonando o ato de sonhar, em troca da segurança de uma rotina, somos viciados e o cigarro já nem tem nicotina.


Marcelo Diniz
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domingo, 19 de julho de 2015

Uma Autobiografia Não Autorizada

Café, poesia e duas doses de ironia


*Uma Autobiografia Não Autorizada*

Pessoa dizia: - O poeta é um fingidor
Gullar pedia: - Que a arte aponte uma resposta
Quintana afirmava: - Eles passarão, eu passarinho
Sócrates sacramentava: - Só sei que nada sei

E eu grito: - Socorro!

...quanto mais encontro o meu caminho percebo que estou cada vez mais longe...

Eu finjo saber o cheiro da rosa sem nem ao menos ter vaso em casa, mas já me machuquei com vários espinhos, então de fato tenho conhecimento de causa. Tal qual Pessoa, por completamente: a dor que deveras sente.

Já quis forçar a arte, exigir um caminho, mas a arte é amor, é liberdade, precisa fluir natural... é a vida, como ela é, e até como não é, são as minhas cartas de suicídio, são minhas poesias negadas, e rasgadas, mas também são alegrias, traduzindo anjos, os que me cercam, os que me sopram... são por vezes só o conforto. Sempre fui demasiado humano, buscando a pluralidade na singularidade que me conforta.

Um passarinho, estranho no ninho, patinho feio, apontado, julgado, cobrado, a andorinha que decidiu fazer o verão... era isso afinal, não era pato, não era cisne, e nem era pássaro, era fagulha de Sol... de vontade, de mudança. da esperança das coisas que passarão e até dos erros que cometi e de toda falta de atenção. Passarei ... passará ... passarão.

Não sei até onde chego e nem sei se quero chegar, meu abrigo é o caminho. Não lembro a cor que tem o coração e nem quantas vezes ele bate, mas sinto ele pulsando o sangue, que me escorre em lágrimas, das feridas não cicatrizadas, de amarguras que ainda não tive, de saber que sou tantos e não sou nenhum.

Hoje acho que sou mais arte do que gente, por isso nem sempre sei quem me olha do espelho. E assim será... até a ultima folha, a ultima nota musical, em frente !


Marcelo Diniz
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terça-feira, 14 de julho de 2015

Toda Forma

Café, poesia e duas doses de ironia


Toda Forma

"Vida, pisa devagar, meu coração cuidado é frágil, meu coração é como vidro...”, Belchior em tom de suplica no emaranhado da letra do clássico Coração Selvagem vinha por alguns anos preparando o meu caminho, feito conselho veio certeiro.

Afinal, um belo dia você acorda, abre a janela e pronto, o mundo resolveu ficar de cabeça para baixo, a sua velha bolinha de gude vem feito bala de canhão no meio do peito, as lágrimas são mais amargas, um porre que desce feito ácido goela a dentro, vida a fora, o maldito relógio que corre, o mal dito pelo não dito, gritos no silêncio de um tempo não escutado, sopro de Quimera... cuspido... escarrado.

Ela vai pisar, na sua essência, nos seus queridos, vai pulsar todos os gritos do mundo em cada milímetro do seu ouvido... é inevitável, mas falar que nos resta aceitar pode parecer um tanto quanto comodista, na realidade dos fatos o digno é suportar, é o levantar para cair para tornar a levantar...

Vida, pisa devagar...  mas abra o olho, eu venho da Terra do Nunca, e lá a gente aprende a voar... te pego na próxima curva !!!


Marcelo Diniz
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domingo, 12 de julho de 2015

Qualquer Amor

Café, poesia e duas doses de ironia


Qualquer Amor

Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, dizia o mestre Guimarães Rosa, e desde então essa frase fica ecoando na minha cachola, batendo de lá pra cá, como pode algo tão simples parecer tão complicado?

O fato é que nos deixamos levar por essa loucura que paira no ar, virou piegas falar de amor, virou brega mostrar que pode amar.

Os caminhos vão ficando estreitos, a união vem do ódio em comum, já não somos um por todos e nem todos por um...  tudo tão confuso, tão estranho, parece um clima de “pós guerra”, será que é nessa hora que aparecem os hippies novamente para acalmar tanta dor ?  aquele povo que cantava e pregava sobre a paz e o amor ?

Que venha a salvação, seja em forma de hippie, em forma de poesia, ou em forma de vida, afinal já dizia o nosso santo filósofo: A medida de amar é amar sem medida !


Marcelo Diniz
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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Até quando o amor aguenta...

Café, poesia e duas doses de ironia


Até quando o amor aguenta...


Trabalhou exercendo sua função com louvor,  cansado no final da noite ao berço esplêndido do seu lar regressou... mas uma peripécia do destino não permitiu, e ele nunca mais chegou...  não vou falar sobre o caso em questão (as manchetes fazem por mim essa função), mas isso tudo ficou latejando na minha cachola, e acho que só consegui entender o motivo disso agora.

Pensando que a função de músico também é uma vertente do meu caminho, e que pelo menos um terço do meu ano eu também estou transitando pelas estradas nas madrugadas da vida foi inevitável acender um sinal de alerta, assim como foi inevitável perceber o quanto a vida é frágil, que o mundo passa ao lado e que nem sempre as circunstâncias dependem exclusivamente das nossas ações, temos o imprevisto cotidiano agindo ao bel prazer.

E o quanto é assustador e impressionante essa nossa certeza do incerto, nunca pensamos no imprevisto, seguimos em frente rumo ao nada infinito, vivendo e fazendo sem saber se vamos chegar ao fim do século, ao fim da década, ao fim do ano, ao fim do mês, ao final da hora, ao final do parágrafo... vivemos por uma incrível manifestação da vontade... que vivamos então de verdade.

ps: e que fique aqui também registrado um MUITO OBRIGADO para todas essas forças divinas, do universo, da fé, que tem permitido que eu saia e volte sempre ileso... mesmo se for ao final de um parágrafo que tenha ficado pouco coeso.

Ao infinito e além, AMÉM !!!


Marcelo Diniz
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