domingo, 20 de junho de 2010

Diário de um outono (encontro das estações)

Pessoa dizia:
- O poeta é um fingidor
Montenegro pedia:
- Que a arte aponte uma resposta
Quintana afirmava:
- Eles passarão, eu passarinho
Sócrates sacramentava:
- Só sei que nada sei

E eu grito:
- Socorro!

Quanto mais encontro o meu caminho
Percebo que estou cada vez mais longe
Longe demais

Eu finjo saber o cheiro da rosa
Sem nem ao menos ter vaso em casa
Mas ja me machuquei com vários espinhos
Então de fato tenho conhecimento de causa
Tal qual Pessoa, por completamente
A dor que deveras sente

Já quis forçar a arte, exigir um caminho
Mas a arte é amor, é liberdade
Ela precisa fluir, natural
É a vida, como ela é, e até como não é
São as minhas cartas de suicidio
São minhas poesias negadas, e rasgadas
Mas tambem são alegrias, traduzindo anjos
Os que me cercam, os que me sopram
São por vezes o conforto
Sempre fui demasiado humano
Buscando a pluralidade
Na singularidade que me conforta

Um passarinho, estranho no ninho
Patinho feio, apontado, julgado, cobrado
A andorinha que decidiu fazer o verão
Era isso afinal, não era pato, não era cisne
E nem era passaro, era fagulha de brilho intenso
De vontade, de mudança. da esperança
Das coisas que passarão
Ate dos erros que cometi e de toda falta de atenção
Passarei ... passará ... passarão !

Não sei até onde chego
E nem sei se quero chegar, meu abrigo é o caminho
Não lembro a cor que tem o coração
Nem quantas vezes ele bate
Mas sinto ele, pulsando o sangue
Que me escorre em lágrimas
Das feridas não cicatrizadas
De amarguras que ainda não tive
De saber que sou tantos e não sou nenhum

Hoje sei que sou mais arte do que gente
Por isso nem sempre sei quem me olha do espelho
E assim será...
Até a ultima folha
A ultima nota musical
Em frente !


- E assim acaba o "Diário de um outono" ...


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

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