Toda manhã ela assistia ao raiar do dia, o Sol imponente que
pulava do escuro do mundo para o colo da gente, tomava o café e saia com um
doce e sincero riso de criança.
Passava o portão da casa e mirava a rua, com o céu já azul
seguia seu caminho, rodopiava o cotidiano feito roda de ciranda, passava pelos
humilhados, aquele amontoado de gente encolhido nos cantos com suas casas de
jornais, passava pela tenda ainda fechada da esquina, acenava para a senhorinha
que toda manhã colocava sua cadeira na varanda, passava pela rua, passava pelo
dia, passava uma semana, era a dona de todo o momento, esticava os braços nos
ponteiros do relógio e feito pose de tango com o tempo fazia uma dança.
Já vestiu prata, já usou azul, mas gostava mesmo era do
verde, passava pela rua, passava pelo dia, passava uma semana, rodava pelo
mundo e no dia seguinte lá estava ela, sem pestanejar, salve dona Esperança.