terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O Céu Chorou

Num dia em que o céu
Chorou a tarde inteira
Da rua formou-se o rio
E na esquina findou-se barreira

Passa um barco...
Passa um dia...
Passa um tempo...
Agonia

O azul dos teus olhos
Em cinza do céu claro
Choro em gotas pelo rio
Lágrimas limpas de orvalho!


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Retratos

Queria ser em branco e preto
Um retrato honesto
Sem falsas volúpias
De cores sem sombras

Um puro e simples retrato
Do que eu já fui
Do que eu serei
Em branco e preto, honesto
Sem formas, desconexo
Nada além de uma verdade
Bruta, imprecisa
Pouco absoluta
Indecisa!


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Duras Penas

Se ao menos eu soubesse
De que lado vem o soco...

A impotência frente ao acaso
Sempre me deixou tenebroso
A queda, e toda sua incerteza
De forma bruta em leveza
Fratura exposta, rígida
Ou bruta e inconstante fraqueza

E se eu abaixo, e brota do chão?
E se eu pulo, e me rasga pelo céu?
E se eu fico imóvel
E pulveriza feito idéia errada?
E se eu fosse chumbo, numa queda,
A duras penas repartindo um corpo?

...se ao menos eu soubesse
De que lado vem o soco.


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

Aquíles

Triste sina
Uma elite burra
Profana e entorpecida
Cada poça de momento
Eram gotas a menos
De uma quase vida
Perdida, em blocos

Alfinetadas no calcanhar
De Aquíles
Pontiaguda certeza

De um Sol que brilha
No meio da noite
Sem conseguir chamar a atenção
Até que a alvorada
Nos separe


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

Cadente

Já que no fim
É sempre o mesmo começo
Já não tenho os pilares
E ainda estou do avesso
O rumo é o mesmo
A casa está lá
Mas, a que preço ?
Parece que é tão fácil
Pareço tão perdido
Já fui bem mais intenso

Mas até as minhas entrelinhas
Ganharem corpo e saltarem
Farei caixas transparentes
Para guardar meus muros
Minhas grades
De forma cadente

"De forma cadente - Decadente forma"


Marcelo Diniz
www.marcelodinz.net

Rosa da Morte

Fomos rosas, fomos roxas
De caule espinhoso
De aroma intenso
De folia em solo firme
Digeria em cada momento
Até que não suportou
Jogou para fora
Expeliu de forma súbita
Por todo o ar
E o que era roxo
Do rubro tomou forma podre
Escureceu feito breu
Medonho e pavoroso instante
Fitava com os olhos
Ludibriados de mal
Soprava em suspiro frio
Um suspiro fatal.


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

Quantas?

Dessa polivalência

Em partes me assusta
Em partes me irrita
Em partes me alegra
Em partes me conforta
Em partes me confessa
Em partes me provoca
Em partes me confunde

E eu não sei
Em qual delas me perdi?
Por qual delas me apaixonei?
Em quantas delas vou sucumbir?

Enquanto o mundo vem caindo
Feito vitral antigo
Pedaço por pedaço
Na minha cabeça...


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A Dor

E hoje tive certeza
Que rimas e versos
São inúteis
São ventos no rio
Contra a correnteza
Não que isso seja
Uma verdade absoluta
Nem que vá tirar
Qualquer fôlego da minha luta
Mas dói, mais intenso
Pedaços da carne, do meu coração
Pingando das unhas
Volúpia tortuosa
E então a dor, agora chega
Me ataca, corroe
É uma dor, que sem piedade dói
Que pinga
Que fura
Tortura...


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

Gostar

Gosto tanto
E nem sei porquê
E de tanto tentar entender
Resolvi gostar
Sem nem saber
Perguntas ou questões?
Melhor esquecer
Gosto por simples gostar
Por simples querer
Por ser

Gosto de um tanto
Que sou capaz de gostar
Por mim e por você

Um gostar sem fim
Sem delongas
Sem perguntas
Enfim...


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Gotas No Asfalto

E na noite fechada
Em que a Lua chorou
Sem rumo vagando
Correndo, andando
Guiado pelo som
Que pulsa firme
Bate fundo
Chame e volta
Grita por nós
Guiado pelas gotas
De choro da Lua
Do asfalto na rua
Do som da sua voz!


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Claro e Evidente

E lá vinha novamente
Seus olhos de lua cheia
Me perseguindo
Pelo meio da foto
Claro e evidente
Seu sorriso frio
Curvando a boca
Sem mostrar os dentes
Presente tenso
Triste ternura
Do velho retrato
Eu não servia nem de apoio
Nem de moldura
Nem de vazão
Do velho retrato
Me restavam seus lindos olhos de Lua
De Lua cheia em vão!


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Neblina

Coisas que passam
Momentos que vão
E eu ainda continuo sem entender
A partir de qual momento
Começamos a nos perder?
Feito fruta madura
Passando para outra estação
Lugar vazio, lugar nenhum
Gela sem tremer
Passando do ponto
Quase um apodrecer
De uma manhã sem graça
Sem praça
Sem nuvem, sem cinza
Um amanhecer, triste e azul
No meu temporal, neblina!


Marcelo Diniz
www.marcelodiniz.net