domingo, 4 de maio de 2025

Capítulo 1 - Fire Moon (degustação)

“Em toda luz, há memória. Em toda memória, uma centelha de quem fomos.” Ano 9034 da Era Silenciosa. Sistema Arkhos. Lua Orbital V-7. Codinome: Fire Moon. Nada vivia ali. Nada além do som. --- A nave Valkion deslizou pela órbita inferior com os escudos defasados, rangendo sob a pressão de ventos solares que castigavam o casco como mil chicotes cósmicos. No centro da cabine, envolto por cabos, poeira e silêncio, Kael despertava. Seus olhos se abriram em lentidão. O visor dianteiro piscava em vermelho suave, acompanhando os batimentos cardíacos que ainda se ajustavam após décadas de hibernação. > “Despertar antecipado confirmado,” anunciou a IA com sua voz fria, neutra. “Motivo: sinal analógico detectado. Fonte: superfície da Lua V-7. Classificação de risco: extrema.” Kael não respondeu. Seus pensamentos vinham como névoa — dispersos, desconexos. Mas uma coisa era clara: ele não deveria estar acordado. Ainda não. O protocolo era claro. A missão só iniciaria no sistema Auralis, a 19 parsecs dali. Mas aquele sinal... Algo nele cortava o silêncio do vácuo como uma lâmina. Ele se ergueu com esforço. Seus membros ainda lembravam da gravidade artificial. Tocou o receptor preso ao peito — uma cápsula metálica, polida, com a inscrição “Unit A.D.001” em baixo relevo. O nome da missão. Analog Dream. A Fire Moon não tinha atmosfera, mas seu calor escapava do solo como se o planeta estivesse tentando falar com o espaço. Kael ativou os sensores visuais. Rios de magma fluíam como veias abertas em uma pele rochosa. A superfície estava em constante transformação, rachando, pulsando. Mas no centro de tudo... um farol. Um único pilar negro, encravado em uma cratera morta. Dele emanava o sinal. > “Fonte identificada. Registro sonoro. Formato: analógico puro. Codinome: FIRE MOON,” disse a IA. “Última reprodução: 5.403 anos terrestres atrás. Autenticidade: humana. Nível de integridade emocional: alto.” Kael se aproximou do painel central. O botão de reprodução piscava em âmbar, uma cor que ele não via desde os arquivos escolares — quando ainda existia luz verdadeira, antes da Compressão. Seus dedos pairaram sobre o botão. Por um instante, hesitou. E se fosse apenas mais uma ilusão? E se fosse real? Ele pressionou. --- Primeiro, silêncio. Depois, um ruído baixo, como se o universo inspirasse. E então... música. A cabine foi preenchida por camadas sonoras quentes, orgânicas. Pads que pareciam nascer debaixo da terra e se erguer como fumaça entre as estrelas. Batidas lentas, mas determinadas. Uma melodia que não se apressava, que não suplicava — apenas existia. Kael recostou-se na poltrona. O som parecia tocar partes do seu ser que estavam congeladas há milênios. Ele fechou os olhos — e lembrou. Lembrou de um planeta azul, de uma mulher de cabelos claros tocando algo que brilhava ao toque. Lembrou de luzes piscando em uma sala pequena, da textura da fita magnética, do cheiro de ozônio das primeiras estações. > “Você se lembra...” sussurrou a IA. Kael não respondeu. Estava em transe. > “Este fragmento pertence ao núcleo original. Foi transmitido pelas últimas torres de frequência antes do silêncio total. A origem está marcada como... Terra.” Ele se ergueu devagar. A música ainda tocava — mas não estava apenas ali. Ela estava por toda parte. Pelos corredores da nave. Nos dados. Na pele. Algo havia sido ativado. > “Sinais secundários detectados,” alertou a IA. “Padrões similares localizados em 9 pontos do Setor Delta. Fragmentos sobreviventes.” Kael fechou os olhos e murmurou: — As faixas estão vivas... > “Confirmação emocional: 97%.” “Reiniciando missão. Novo título operacional: Recuperação do Sonho Analógico.” “Você é agora: Guardião da Frequência.” Ele sorriu. Pela primeira vez em séculos. A nave estabilizou a órbita. A Fire Moon permanecia lá embaixo, girando lentamente como um disco perdido. A trilha continuava tocando, como se cada nota soubesse exatamente o que ele precisava ouvir. Kael abriu o compartimento secreto abaixo do console. Dentro, envolta por tecido vermelho, estava a última cópia física de um artefato proibido: uma fita cassete. No rótulo desbotado lia-se: Analog Dream – Registro Original. Artista: desconhecido. Ano: 2009. Ele colocou a fita no decodificador portátil, ligou os fones e deixou que o mundo antigo tomasse conta de seu presente. E no som... ele ouviu mais do que música. Ouviu esperança. A Fire Moon não era apenas um lugar. Era o primeiro marco de uma jornada. Um ponto de ignição para tudo o que havia sido esquecido — e que agora precisava ser encontrado. Kael apertou os cintos, ajustou o curso e mergulhou no hiperespaço. O sonho analógico havia começado ***Quer Mais?, clique no link abaixo*** https://pay.kiwify.com.br/o1PlTUI ***